quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ela tinha doze, ele tinha treze.

Esse texto foi escrito há dois anos, quando eu ainda tinha 22. Conta sobre os encontros e desencontros que tive com o meu namorado até os meus 18 anos. Espero que gostem! 

Tem uma história de amor bonita? Cômica? Triste? Me conta por e-mail que a gente conta por aqui. :) Muitas pessoas estão me enviando sugestões de tema, assim que possível publicarei. Obrigada!




Ela tinha doze, ele tinha treze

Como realmente se conheceram, eles não lembram, pois ainda usavam fraldas e somente balbuciavam algumas meias palavras. Moravam muito próximos, numa cidade bonita do litoral, até que um dia ela se mudara para uma casa um pouco mais distante.

Ela tinha doze, ele tinha treze, eles não sabiam falar inglês. Ela pedira ao seu pai para ser matriculada num cursinho de línguas que abrira nas redondezas, já ele fora obrigado por sua mãe. Os dois saíam para a aula sozinhos, mas nunca havia o caso de se encontrarem no caminho. Ela saía a pé e atenta ao horário; no caminho brincava com meia dúzia de cachorros com os quais havia feito amizades. Já ele odiava cachorros, achava que fediam e lambiam sem qualquer necessidade. Ia sempre de bicicleta, na maioria das vezes atrasado, mas nunca com pressa. Ela odiava bicicletas. Na verdade, nunca aprendera a usar o freio de forma adequada.

Desde o primeiro dia de aula ela não tirara os olhos daquele menino atrasado que gostava de bicicleta. Aos poucos, ela fora percebendo que ele tinha a mania de morder o cantinho da boca e coçar o nariz por causa da alergia. Ela adorava quando ele sentava no lugar bem a sua frente, só assim ela podia olhá-lo de perto e sem culpa, nem que fosse apenas para sua nuca.

Certa vez, ela criou coragem, buscou na secretaria do cursinho o telefone dele e ligou:

— É... Fernando?! É Mariana — disse com um tom de insegurança.
— Quem?!
— Mariana, do curso de inglês...
— Ah! Oi.
— É... Você sabe quais as páginas do livro que o professor pediu para fazer?
— Eu não.
— Ah... Tá bom então, tchau!

É claro que ela sabia quais eram as páginas da atividade, ela até já as havia feito. E por um momento, sentiu-se ridícula... Sua vontade ao ligar era de apenas dizer: “Oi Fernando, sou eu. Casa comigo?”. E ele responderia: “Caso. Agora!”. Ela queria ser única na vida dele, assim como ele era o único Fernando na vida dela.

E na aula seguinte, enquanto aprendiam as frutas, ele insistira na idéia de querer saber como se dizia jambo em inglês. O professor explicara que não existia jambo em inglês, pois era uma fruta típica do Brasil. (Mal sabia ele que todas as espécies de jambo são nativas do continente asiático)

— Existe, não existe? — perguntou, confuso, a ela.
— Claro que existe, o professor é que não soube lhe responder e ficou com vergonha de admitir.

Ela sabia que não existia, mas concordara pelo simples prazer de concordar com ele.

Após um ano, quando ela teve de se mudar novamente, seu pai achou por bem transferi-la para um curso mais próximo de sua nova casa. Ela recusara-se. Aulas de inglês sem ele já não fariam mais o menor sentido. Meses depois, ele saiu do curso também, talvez por sentir falta da menina irritante que respondia tudo.

Se viram dois anos mais tarde, nos jogos extraescolares. Ela agora tinha quinze. Quinze e peitos, quinze e um cabelo comprido. Entre tanta gente, reconheceu-o de longe. De frente? Não, de costas. Ah! Aquela nuca era inconfundível. Passou por ele como quem desfila, mas não foi reconhecida. Deixou que ficasse assim, pelo simples prazer de olhá-lo de perto e sem culpa.

Aos dezesseis, ele decidira ser aviador e se mudara para uma cidade fria e cercada por montanhas. Até os dezessete, ela namorou vários, mas nenhum deles possuía manias estranhas e suas nucas eram um tanto quanto comuns, dessas que correm o risco de serem confundidas em qualquer multidão.

Ela tinha dezoito, ele dezenove. De férias, encontraram-se por acaso. E dessa vez, ela se apresentara como a tal Mariana do inglês. Foram férias inesquecíveis. Antes de ele ir embora, ela entrelaça os braços em seu pescoço e pergunta: “Você é meu namorado?”. Ele ri e pergunta: “Você é minha namorada?”. “Desde os 12 anos”, disse ela. Ele não entendera, mas estava tão atrasado, não havia tempo para que ela explicasse. Na ocasião, ele a deu uma rosa, e, desde aquela rosa vermelha e apressada, ela sabia que estava amando a pessoa mais diferente que já havia conhecido, e, ao mesmo tempo, tão igual àquela por quem se apaixonara aos doze anos.
       
Ela tem vinte e dois, ele vinte e três. Brincam juntos com os quatro cachorros da casa dela. Ela tentou umas pedaladas na bicicleta dele, mas ainda não pegou o macete do freio. Curioso é que, desde o início, ela sabia que era ele, mas parece que só o tempo é capaz de definir certas coisas. Ela ainda não fala inglês.

Mari Lima

6 comentários:

  1. que lindaaa. e "desde os doze anos" foi a parte mais fofa, a melhor. hahaha.
    parabéns pelos textos, pelo blog.
    beijo.

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  2. Mariana,
    (clarissa, amiga de amanda falando),
    a gente tá aqui lendo seu texto, no frio do rio de janeiro, tomando vinho e falando sobre amor... tão lindo e inspirador! que o amor dure enquanto durar toda a sua paixão, e essa nuca linda... ;)
    beijos!!

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