domingo, 31 de julho de 2011

Nós é pobre, mas nós sabe das coisa.


E sabe mesmo!


Quem é professor - independente de faixa etária - sabe o quanto somos questionados sobre uma porção de coisas. Uma delas é:

“Agora virou certo falar nós vai, nós quer, pra mim fazer...?”

Sim, nada mais é considerado errado. A gramática não dita mais as regras, a sociedade sim.

“Então a língua portuguesa virou bagunça agora?”

Não, não virou bagunça, virou respeito.

Para quem não estuda educação, principalmente letras e pedagogia, é difícil de entender, pois a mente de vocês ainda é muito exata. Ou está certo ou está errado, não existe meio termo. É o mundo que tende a fazer isso com a gente, não é culpa de vocês.

O que acontece com a educação, nesse momento, é que o educando (aluno) não é mais uma página em branco. Hoje, o educador respeita a história de vida do ser humano e o seu contexto social.

Imagine que você nasceu na favela e, desde sempre, ouviu todos a sua volta falando: “nós vai”, “a gente somos”, “pra mim ir” e etc. E você, inteligente que é, aprendeu a falar dessa forma. Agora me responda: você aprendeu errado?

De forma alguma. Você aprendeu certo. Estranho seria se, no meio de tantos “nós é”, você aprendesse “nós somos”.

E é aí que entra o educador! A criança, o adolescente, o adulto que está no contexto escolar merece e deve ser visto não apenas como aluno, mas como pessoa. Por isso, o professor da atualidade jamais poderá dizer a esse educando que ele está escrevendo ou falando errado. O papel do educador é explicar ao seu aluno que aquele tipo de escrita e oralidade não está adequado ao contexto escolar, embora possa estar adequado à sua vida pessoal.

É papel do educador avisar ao seu aluno que existem formas diferentes de falar e escrever. E que a forma ensinada na escola é aquela que será usada em provas, concursos, entrevistas de emprego, local de trabalho e etc.

“E o aluno não se confunde com isso tudo?”

O aluno, aos poucos, começa a perceber e inserir, na sua vida, a forma mais adequada de falar/escrever, de acordo com aquilo que almeja para si.
Mas jamais, eu disse jamais, um professor pode recriminar ou dizer, simplesmente, que essa forma de falar está errada.

É do ser humano valorizar, apenas, aquilo que vem da gramática, da academia, e, como conseqüência, desvalorizar as pessoas que não se inserem nesse contexto. Pois eu sinto lhes dizer, mas não existem pessoas que não sabem nada, assim como não existem pessoas que sabem absolutamente tudo. Todos sabemos pouco. Um pouco de cada coisa da vida. E devemos estar dispostos a saber cada vez mais.

“E quando sabemos mais? Finalmente sabemos muito?”

Nunca. Sempre saberemos pouco. O conhecimento é infinito.

Eu - e provavelmente você - aprendi sobre uma terra desenhada no quadro da sala de aula ou exposta em mapas, mas tem gente que aprendeu sobre a terra sentido-a em baixo de seus pés, semeando, plantando, colhendo...  

Eu aprendi sobre os animais nos livros de ciências, biologia... Tem pessoas que aprenderam com a vida: tirando leite de vaca, por exemplo.

Quem sabe mais? Nós ou eles? Nenhum dos dois. São saberes diferentes, únicos e igualmente importantes.

Os meus primeiros e melhores alunos eram da favela de Mãe-luiza. Primeiros pelo óbvio, e melhores porque me faziam rir todos os dias. Nossa aula era uma troca, troca de saberes. Os meus, advindos da faculdade, e os deles, advindos da vida. E que vida! Com eles, eu aprendi coisas que jamais aprenderia sentada numa cadeira da UFRN.

Por isso lhe digo, sem medo de errar, que os educadores de hoje não ficaram loucos, meu caro. Eles abriram os olhos e a mente. Experimente fazer isso também. Você vai ver que não dói.

                                                                                        
Mari Lima

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Festas Juninas

A minha filosofia de vida é: eu não danço quadrilha. Primeiro que é chato e segundo que não faz sentido.

O cara da banda diz: “Escolham seus pares, nós vamos começar a quadrilha!”

Oi? Pra quê escolher o meu par se vocês vão ficar fazendo um sangê sem fim? Porque quadrilha é assim, a gente passa os primeiros dois segundos com o nosso par, depois passa pela mão de todos os homens da festa e quando a gente fica feliz que chegamos ao nosso par novamente... A quadrilha acaba! Agora me responda, isso faz sentido?

Sem falar que quadrilha é o tipo de “divertimento” para pessoas socialmente bem resolvidas. Para as envergonhadas é um tormento! A minha segunda filosofia de vida é: eu não danço com pessoas desconhecidas. Por quê? Primeiro que eu não sou obrigada e segundo que é constrangedor. Dançar com um desconhecido da festa, pra mim, é o mesmo que passar na rua, olhar pra qualquer homem e dizer: “E aí? Vamos fazer um balancê”?

Sem falar que a maior tensão da quadrilha é não saber com quem você vai fazer o próximo balancê. E é incrível como sempre, sempre mesmo, eu faço o balancê com o jogador de basquete, o Jô Soares, o velhinho sem ritmo...

E as comidas típicas? Tudo bem as pessoas gostarem de comida de milho. Mas precisa mesmo ser tudinho de milho? Imagina você, que adora queijo, chegar em um restaurante e o cardápio ser: bolinho de queijo, pastel de queijo, fondue de queijo, pão de queijo e cheesecake de sobremesa? Eu até gosto de comidas de milho, mas tradição também tem limite! Uma pizza no cardápio das festas juninas não iria mal.

Além da quadrilha e das comidas totalmente típicas, eu também mudaria algumas pequenas coisas. Como, por exemplo, gente que dança esquisito. O que me incomoda não é se o casal dança bem ou mal... É o nível de empolgação! Festa junina não é o extinto “Mini pagodeirinhos” do Raul Gil e nem a “Dança dos famosos” do Faustão. Contenham-se!

E os fogos? Alguém me explica a graça, a felicidade, o divertimento, a paixão, o amor de soltar fogos? Fogos promovem barulho, acidentes e matam cachorros de susto e tremelique. Nada mais.

E para concluir, eu também exterminaria das festas juninas as moçoilas que não sabem se vestir adequadamente. Não existe nada mais fácil na vida do que se vestir para uma festa de São João. São apenas três opções: roupa tipicamente junina, qualquer blusa ou vestido quadriculado ou roupa normal, já que ninguém é obrigado a entrar no clima da pamonha e da canjica.

Só que sempre tem uma menina que usa a única opção que não pode: a de matuta-prostituta. Nada contra as prostitutas, mas vestir uma saia quase mostrando a calcinha, com uma meia arrastão e um corcelet estufando os peitos, não é matutisse, é festa à fantasia e a pessoa escolheu ir de coelhinha da playboy.

Por essas e outras, que festas juninas sem quadrilha, fogos, gente que dança esquisito, comidas totalmente típicas e gente que se veste inadequadamente, seriam ótimas festas. Eu iria para elas todos os finais de semana, caso existissem.

Mari Lima

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sotaque nordestino

É comum ouvirmos da boca dos nordestinos que as pessoas das regiões sudeste e sul tem preconceito conosco.  

Tá certo que isso é pura verdade. Mas você já parou pra pensar que os próprios nordestinos são os primeiros a negarem suas origens?

É normal nordestinos passarem alguns anos (ou até menos) morando em outra região e voltarem a cidade natal com um sotaque totalmente diferente do original.

“Ah, mas é porque sotaque é uma coisa que pega. Não tem como morar no Rio de Janeiro e não voltar xiando”

Engraçado. Sotaque só “pega” pra quem é nordestino, porque eu nunca vi um carioca voltando ao Rio e falando como Cearense.  Seria coincidência? Creio que não.

A gente insere novas palavras locais ao vocabulário, gírias e etc. Mas daí a não conseguir mais falar como antes... Faça-me o favor!

“Não é que eu tenha vergonha do meu sotaque. Mas em outras regiões, se eu não adequasse o meu sotaque ao deles, ficaria excluído”

Exclusão não justifica. Se um grupo lhe exclui por você ser nordestino, esse grupo deve ser bem idiota. Eu não gostaria de ser amigos deles. Você gostaria? Estranho.

Acusam-me, injustamente, de ser impaciente, antipática, etc. Acontece que, para certos tipos de pessoas, eu não tenho mesmo paciência e nem acho que devo ter.

Certa vez, enquanto fazia uma viagem com minha prima (miss simpatia), encontramos com alguns brasileiros no hostel. Entre muitos Paulistas, Cariocas e Gaúchos, éramos as únicas nordestinas. E sabe o que mais me irrita no contato com essas pessoas?

  1. Eles acham que o sotaque nordestino é um número circense. Riem e pedem pra gente falar de novo. 
  2. O livro de geografia da escola deles veio com erro. Eles nunca viram no mapa as outras regiões do Brasil. Imagine então os seus estados e capitais.  
  3. Eles acham que no nordeste todo mundo é feio e passa fome.


E lá vai a minha prima distribuir sorrisos e mostrar que nordestinos tem bom humor e são gente boa.

Pois me chamem do que quiserem, mas eu não tenho de agüentar um “papagaio paulista” repetindo ridiculamente cada frase que eu digo. Não tenho de ter paciência com uma menina universitária que pergunta qual a capital de Recife.

A gente muda o nosso sotaque porque a gente assume vergonhosamente a nossa cultura como inferior, o nosso jeito de falar como feio, ridículo.

Pois me coloquem pra morar em qualquer lugar do mundo e eu serei sempre a mesma, sem acrescentar sequer um artigo antes dos nomes próprios.

Eu tenho orgulho de ser Nordestina-natalense-potiguar-comedora-de-camarão-papa-jerimum. E você?

Mari Lima