sábado, 23 de novembro de 2013

O pecado da gula e o instagram


Desde quando comer sem limites virou pecado?
Desde antes do cristianismo, dirão alguns.
O catolicismo, com o intuito de controlar os seus seguidores quanto aos seus instintos, definiu como sendo sete os principais vícios da conduta humana: a gula, a luxúria, a avareza, a ira, a vaidade/orgulho, a preguiça e a inveja. O que resultou na popularização dos sete pecados capitais.
Tá, até aí tudo bem.  Só que a gente sabe que a gente é pessimo nesse negócio de seguir à risca a tabelinha. Quem resiste a 10 minutinhos a mais na cama e não deseja (mesmo que por 10 segundos) ser desempregado ou ter nascido cachorro só pra não ter quer levantar e ir trabalhar? Quem nunca deixou de entrar no mar, num lindo domingo de sol, só pra não estragar a escova? Quem nunca sentiu inveja de Grazi Massafera só porque ela era casada com Cauã Reymond? (E depois sentiu ira pq ela deixou ele escapar).
Por isso, eu prefiro dizer que, quem realmente colocou o pecado da gula na nossa cabeça, não foi o Papa Gregório Magno no século 6, mas sim o Instagram nos dias atuais. Eu lembro que eu até me alimentava antes dele. Que eu até lembrava o gosto de um leite condensado.
No início do Instagram era fácil viver. Todo mundo só postava a foto do almoço, do jantar ou do lanchinho. A gente via de big mac a saladinha.
Mas aí, de repente, alguma pessoa bonita e gostosa (que tem que ser gostosa nível 11 pra iniciar uma revolução desde tamanho) começou a postar fotos de beterraba, alface, barrinha de cereal…
Aí, do nada… o gigante acordou! Pra corrupção?
Não, pra dieta e pra qualidade de vida.  
Todo mundo está de dieta! Magros, obesos, ex-obesos, futuros obesos, desnutridos, gente que já morreu… todos!
De forma que eu quero chorar toda vida que eu como uma colher de nutella.
Eu nunca tive os melhores hábitos alimentares do mundo, até porque sempre fui relativamente magra e beirando a desnutrição quando crianca, mas, de uns tempos pra cá, tudo mudou. Inclusive eu.
Ninguém mais come brigadeiro sem explicar a humanidade o motivo.
#Brigadeiro #TPM #PrecisoMuito
#BigMac #Domingo #HojePode
#BoloDeChocolate #MeuAniversario #PerdaoSenhor #SeiQuePequei
Ninguém mais vai pra academia sem dizer que foi. É como ir a Paris ou a Londres e não tirar nenhuma foto.
É ótimo saber que as pessoas estão largando aqueles velhos hábitos alimentares e indo em busca de uma qualidade de vida melhor. Gente que nunca foi pra academia… hoje correndo e pedalando. Gente que sempre comeu de tudo… lendo o rótulo dos alimentos antes de consumí-los. A vida é linda e a gente tem mais é que viver muito mesmo. E com saúde, de preferência.
Mas o engraçado é que tudo no Brasil vira modinha. Qualquer besteira, até dieta. Não fique ofendido, eu me incluo nessa também. Mais “modinha” que eu no Instagram, só se for duas de mim! Se a onda é dieta, eu tô de dieta. Se a onda é foto no espelho, tiraremos foto no espelho. Se o Instagram diz que o bom é comer beterraba e subir escada, subirei escada comendo beterraba. Sou besta mesmo, igualzinho a você.
Mas o difícil mesmo é morar onde eu moro e seguir no Instagram as pessoas do Brasil. Eu moro num país onde as pessoas comem bacon como se fosse a “porção de proteína” da refeição e a geléia de morango como se fosse a fruta do dia. E o problema do tal do bacon é: se vc enrolá-lo numa havaiana e depois mordê-la… ela vai ficar gostosa! Porque esse danado do bacon deixa tudo gostoso.
E aí você vai num restaurante nos Estados Unidos e tenta fazer a linha “sou magrinha porque me cuido” e pede uma salada. Aí  a garçonete traz uma salada com 15 litros de molho de queijo, queijo derretido por cima do brócolis, pedacinhos de bacon e um suco que tem mais açúcar que o mel de 5 colméias.
Quer dizer…
Assim Fica difícil entrar na modinha, gente. Tenham pena de mim!
Vou ali tomar um chá verde e já volto. Mais tarde eu posto a foto, lógico, né? #CháVerde #Saúde #DietaEterna #BrasilContraAObesidade #Instafood #Instamagreza
 
Mari Lima
@marinlima
 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Mãe ama infinito

É. Eu tô nostálgica.

Eu não sei sobre a família de vocês - aliás, eu sei um pouco sim. Toda família tem um pouco de amor, um pouco de loucura e alguma tristeza – mas na minha família, as mães tem mania de perseguição: minha mãe, minha tia, minha avó e agora também a minha irmã, que entrou pro time das mães enlouquecidas, acham que nós as culpamos por tudo!

É porque a gente pega aquele álbum antigo cheio de poeira, que fica embaixo do centro da sala ou no maleiro do guarda-roupa, e encontra o quê? Você e suas irmãs com um modelito deveras duvidoso que a sua mãe juuura que era moda! Aí você pesquisa toda a história da moda, desde 1900, e não encontra nada parecido.

Aí a gente cresce e começa a namorar. Se o namorado é estiloso, a mãe diz que é maconheiro-vagabundo-sem-futuro, e se for muito certinho, é porque é sonso e quer lhe engravidar. Aí quando o namoro não dá certo a gente culpa a mãe, que sabia que ele era maconheiro-vagabundo-sem-futuro, e mesmo assim deixou a gente engravidar. E se a mãe proíbe o namoro a gente passa o resto da vida pensando que ela nos privou do amor da nossa vida.

De um jeito ou de outro, a culpa é sempre da mãe. Mãe erra mesmo. Fazer o quê? Ser mãe é um emprego pra vida toda e sem direito a aposentadoria. Imagina a quantidade de erros que você cometeria em 20, 30, 40 anos de profissão? A diferença é que mãe, independente dos erros, é sempre perfeita, com direito a foto de funcionária do mês e tudo.

A gente tem escola pra educar, pai pra dar bronca, avó pra mimar e todo o resto da família pra nos ensinar coisas boas, mas aprender a ser gente mesmo... isso a gente aprende com a mãe.

Mãe é aquela que diz pra gente não aceitar o brigadeiro na primeira vez que oferecem (mesmo que a gente esteja morrendo de vontade). Mãe é aquela que mata só com um olhar quando a gente esquece de dizer “obrigada”, “com licença” ou “por favor”. Mãe é aquela que diz que a gente vai morrer, se a gente provar algum tipo de droga. Mãe é aquela que grita na beira da praia dizendo que a gente tá muito no fundo. Mãe é aquela que mata a gente de vergonha quando liga pra todas as vizinhas pra dizer que a gente “virou moça”. É. Mãe mata a gente de vergonha! E de muito amor também.

Algumas já se foram, outras não. Algumas estão velhinhas precisando do nosso cuidado, outras não. Algumas estão pertinho fazendo almoço e outros miminhos, já algumas estão longe e bem guardadinhas no coração. Essa última é a minha. 

E não importa a distância ou o que o destino nos reserve... Mãe ama em círculos. Mãe tem amor infinito.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Saudade

s.f. Recordação suave e melancólica de pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou possuir. / Nostalgia. / 
6 meses morando nos Estados Unidos. Dizem que quando a gente fala da saudade ela diminui. Verdade ou não, não sou do tipo que guarda sentimentos.

Como anda minha Natal? Saudade da noite natalense, quando, na maioria das vezes, não tinha nada pra fazer. E aí você ligava pros seus amigos e ia pra onde? Pra um barzinho! Lógico! Jogar conversa fora e rir alto. Rir alto me faz falta! As pessoas falam que brasileiro é barulhento, eu falo que a gente é feliz!

Às vezes bate uma vontade de ter os amigos do lado quando eu tenho uma piada ótima, mas eu sei que ninguém aqui vai entender. E é por isso que, aqui, meu celular é mais importante do que nunca. Porque ele não é só um celular, é uma caixinha onde eu guardo todos os meus verdadeiros amigos: os que acham graça nas mesmas coisas que eu. Aqueles que enchem o meu coração de alegria.  

Saudade de comer comida boa. Feijão verde, macaxeira, churrasco... de ter tapioca no café da manhã e toddynho na geladeira. De jantar no Pinga fogo no domingo a noite só pra fugir de Faustão e reclamar que o sushi tá cada dia mais caro.

Saudade de ligar o som do carro e me divertir com as músicas falando de chifre, rapariga, carro e dinheiro, e de não ser aquela pessoa que fala “pobrema” e “menas”. Saudade de ser gramaticalmente correta.

Saudade de ser cidadã e não só mais uma estrangeira. Logo eu, que sou a pessoa mais envergonhada do mundo, tenho vontade de falar com brasileiros quando os encontro na rua. Só pra falar português, só pra saber da história deles, só pra dizer “eu também sinto muita falta do Brasil”.

E é por isso que eu tô sempre falando do Brasil. Das coisas boas e também das ruins, claro.  Já tá na hora das pessoas aprenderem que Brasil não é só mulher nua, que carnaval são só quatro dias no ano e que ninguém mora na Sapucaí. A gente trabalha e a gente também tem o que fazer.

É tudo tão diferente. Só os cachorros que não mudam. Não importa a língua, eles serão sempre as coisas mais fofas que Deus já criou. De português a catalão... eles não só lhe entendem, como também lhe amam e lhe respeitam pelo que você é.

Porque não importa quantas línguas a gente fale, nada é melhor do que se sentir em casa, no aconchego dos nossos. Mas a vida é mesmo muito imprevisível e eu acho que o que Deus quer mesmo é que a gente encontre a felicidade, onde quer que a gente esteja.
Ps: Mainha, Painho, Renata, Júlia, Paula, Tia Pipipa, Tia Bá, Pati, Victor, Amanda e vovó, vocês são tudo pra mim.

sf Remembrance soft and melancholy missing person, local or distant thing, you want to see again or possess. / Homesick. /

Six months living in the United States. People say that when we talk about missing it slows down. True or not, I'm not the type of person who keeps feelings to myself.

How is my city? I miss the nightlife in Natal when in most cases had nothing to do. Then you call your friends and where you go? To a bar, of course! Chilling and laughing out loud. I miss laughing out loud! People say that Brazilians are noisy, I say we are happy!

Sometimes I wish I had my friends by my side when I have a great joke, but I know no one here will understand. And that is why here my cell phone is more important than ever. Because it's not just a phone, is a box where I keep all my true friends who have fun with the same things I do. Those who fill my heart with joy.

I miss eating good food. Green beans, macaxeira, barbecue ... having tapioca for breakfast and Toddynho in the fridge. Having dinner at Pinga Fogo on Sunday night just to get away from Faustão  and say that the sushi are increasingly expensive.

I miss turning on the radio and have fun with the songs about hookers, cars and money and I also miss don’t be that person who says "more small" and "more tall". I miss being grammatically correct.

I miss being a citizen and not just another foreigner. Even me, the shyer person in the world, I want to speak to Brazilians when I meet them somewhere. Just to speak portuguese, just to know the history of them, just to say "I really miss Brazil too".

And that's why I'm always talking about Brazil. The good things and the bad things too, of course.  It's time for people to learn that Brazil is not only naked woman, that Carnival is only four days in the year and that no one lives at Sapucaí. We work and we also have stuff to do.

It's all so different. Only the dogs are the same. No matter the language, they will always be the cutest things God has created. From Portuguese to Catalan ... they will not only understand, but also love you and respect you for who you are.

Because no matter how many languages ​​we speak, nothing is better than feeling at home in the comfort of our own. But life is really unpredictable and I think that God wants us to find happiness, wherever we are.

Ps: Mainha, Painho, Renata, Julia, Paula, Tia Pipipa, Tia Bá, Pati, Victor, Amanda and vovó, you guys are my everything.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ir à praia: um passeio provavelmente irritante

Feriado. Pensou em praia?

Eu não.

Porque a primeira coisa irritante de ir a praia é que você tem que ir feia básica. Tem que sair de cara lavada, havaianas e rabo de cavalo. Só Gisele Bundchen consegue ser bonita na praia.
Confesso que não aguento e sempre dou uma roubadinha. Passo uma base, um blush e um batonzinho de leve.

Aí o namorado pergunta com ar de estranhamento: “Amor, você passou maquiagem pra vir à praia?”
Eu: “Claro que não, né? É que eu nasci bonita mesmo".
Namorado: “Ah bom”.  

Eu pagaria excesso de bagagem se fosse à praia de avião. Protetor solar pro corpo, pro rosto, chapéu, hidratante pós sol, protetor solar pros cabelos, pente, toalha, roupa seca, óculos e uma boa dose de paciência. Praia é um lugar tão primitivo que a gente tem que levar a vida dentro de uma bolsa pra não acordar no outro dia com um câncer de pele e o rosto da Dercy Gonçalves.

A segunda coisa mini-irritante é o tal do sol. Eu sou fã da camada de ozônio! Eu amo a camada de ozônio! Porque raios tinham que destruir a coitada? Ela era tão boa pra gente...

E aí você senta na praia com uma louca que tira a roupa e se joga na areia pra se bronzear. Não suficientemente louca ela pergunta porquê você também não vai.

- Eu? Me bronzear? Pra quê?  (As pessoas que se bronzeiam normalmente não entendem essa pergunta)
- Pra ficar bronzeada, né?
- Mas eu gosto da minha cor.
- Mas é bonitinho uma marquinha...
- Porque é bonitinho ser de duas cores? Sempre fui de uma cor só e vivi muito bem até hoje.
- Então você nunca se bronzeia?
- Só quando eu fumo crack.

Outra coisa que me irrita são as pessoas extremas (extremamente feias e extremamente bonitas). As extremamente bonitas não esperam nem sair do carro e já vão arrancando a roupa. E o melhor de tudo é que elas tiram fotos com o mar no fundo e colocam no instagram com uma legenda do tipo: “Como Deus é maravilhoso”, “Que natureza bela”. Só que no fundo elas queriam escrever: “Diga que a minha perna tá grossa, minha barriga tá linda e curta a minha foto porque eu malhei muito”.

As extremamente feias me incomodam porque elas obrigam a gente a olhar pra bunda delas. E parece que quanto mais feia é a bunda da pessoa, mais ela passa aquela meleca daquele “cenoura e bronze”. E a bunda da pessoa que já era feia... começa a ficar laranja! Agora me diga: por que que uma bunda feia bronzeada é melhor que uma bunda feia branca? Bunda feia é bunda feia. Não adianta bronzear!

A última coisa extremamente irritante (talvez a mais irritante de todas) são aquelas pessoas super felizes jogando bola.  Juntam 50 homens feios exóticos e gordos fora de forma numa areia melequenta, sem delimitação de campo e o terror está formado. A qualquer momento você pode ser derrubada por eles ou pela bola. Minha vontade é de pegar a bola, jogar pra marte e dizer: “Pronto! Acabou a brincadeira! Vão brincar de outra coisa! Vão fazer castelinho de areia que é uma brincadeira muito mais civilizada!”.

Praia precisa ter um gerente! Dilma tem que nomear alguém pra colocar ordem nesse lugar. Como que as pessoas normais como eu vão poder usufruir desse espaço? Se onde eu passo tem uma bunda laranja, uma criança me melando de picolé caseiro de caicó, um peladeiro me derrubando, um sol me queimando?

Aí depois a chata sou eu.   

domingo, 26 de agosto de 2012

Aprendendo com francesas e cavalos



Não costumo folhear revistas quando vou ao salão, sempre prefiro conversar sobre “gayzises” com o cabeleireiro. Mas da última vez em que estive lá, uma capa me chamou atenção: “O segredo das mães francesas”.

A matéria falava sobre uma americana – Pamela Druckerman – e o seu livro “French children don’t throw food” (Crianças francesas não atiram comida). Tudo começou quando ela foi morar na França e passou a sentir vergonha do comportamento dos próprios filhos. Intrigada, ela passa a pesquisar as mulheres francesas e os que elas fazem para os seus filhos serem tão bem educados.

Falemos do Brasil.

Ninguém mais se espanta com criança dando mini-showzinho em supermercado, loja de brinquedo, restaurante... É rotina, é normal.

Só que não é.

O adulto esquece que quem manda é ele. Que ele é detentor do controle e ele dá a ultima palavra, doa a quem doer. Criança necessita de disciplina. Do verbo “necessitar” mesmo. Sem ela a criança sofre.

E criança não é besta, ela testa o adulto. Eu mesma já tive o meu dia de Ivete Sangalo aos 5 anos e dei showzinho no supermercado. Eu queria um chocolate e o meu pai disse que não. A partir daí eu comecei a fazer “escola de samba” – apelido que minha avó deu ao movimento simultâneo de pernas, braços e cabeça que eu fazia quando era contrariada – e a gritar. Meu pai, com sua inerente calma, pegou o chocolate e passou no caixa. Eu, achando que tinha sido mais esperta, fiquei com aquele sorriso de vencedora, conta ele. Chegando em casa, ele dividiu o chocolate entre quatro: ele, minha mãe e minha duas irmãs.

Resultado 1: meu pai foi adulto suficiente para ser mais esperto que eu.
Resultado 2: faz 20 anos que eu não dou showzinho no supermercado.

Mariana, e os cavalos?

Bom, o meu professor costuma dizer o seguinte: “Os cavalos são muito inteligentes e eles sempre vão testar você. O que você tem que fazer é pensar antes dele. Você manda. Não seja passiva. Encurte a rédea”.  

E é bem assim mesmo: se a gente deixa a rédea longa demais, dá margem pra eles fazerem o que quiserem. Inclusive nos derrubar. E com criança não é diferente. Pulso firme é essencial. E que fique claro que isso não tem nada a ver com palmada ou gritos, mas com olhar firme e tom de voz. O respeito que o próprio adulto se dá, é o que ele terá de volta da criança.

Cavalos e crianças: uma comparação infeliz. Mas comparei tá comparado. Longe de mim voltar atrás.

Gayzises: conversa sobre o que rola no mundo da moda, cabelo e maquiagem..

Mari Lima



domingo, 1 de julho de 2012

Diálogo entre amigas II: desilusão nominal


- Ai, amiga! Eu não tenho mesmo sorte com homem.

- O que houve dessa vez?

- Bom, tudo começou num barzinho. Ele chegou pra conversar comigo...

- Bonito ou feio?

- Semi-bonito.

- Burro ou inteligente?

- Pareceu inteligente. Você vai me deixar falar ou não?

- Tá.

- Uma conversa super legal... Tava tudo ótimo! Até aparecer um amigo dizendo: “Graaande Frankiel”. Desde o princípio que eu tinha entendido que o nome dele era “Gabriel”.

- Frankiel? Hahahahaha! Com “k” mesmo? Com “i” ou com “y”?

- Que diferença faz, Mariana? Com “k”, com “q”, “i”, “y”... de todo jeito é horrível! E é claro que eu não peguei a carteira dele pra olhar os documentos!

- Amiga, todo nome feio pode ser piorado com um “y” e uma letra dobrada! Acredite!

- Bom, eu só sei que depois dessa desilusão só me restou perguntar o porquê do nome Frankiel. Ele disse que o pai se chama Franklin e a mãe Muriel. Foi uma misturinha. E detalhe: os pais são separados. Eles se livraram um do outro, mas o coitado do menino vai ter que viver com essa junção pro resto da vida!

- Coitado! Já não tinham unido o espermatozoide ao óvulo? Bastava! Pra que raios tinham que inventar de unir os nomes?

- Eu só sei que fiquei totalmente desiludida e dei o número errado.

- Ah, mas você exagerou! Tudo bem que o nome é feio, mas dava pra ir ao cinema com ele, comer uma pizza e até andar de mãos dadas no shopping. Só não dava pra casar!

- Por que dava pra ir ao cinema, mas não dava pra casar?

- Imagine você naquela igreja repleta de lírios brancos, com um vestido caríssimo, um véu enorme... pra dizer: “Eu te recebo, Frankiel...” perante toda a igreja! E não pode apelidinho!!


- É mesmo! Minha vontade era de ir ao cartório com ele e dizer: “Moço, mude pra Gabriel”.

- Mas pelo visto ele gosta do nome, né? Porque poderia dizer “Frank” pra amenizar. Aí só depois que a pessoa tivesse apaixonada que ele deveria revelar o nome todo.

- Pois é, acho que ele deve gostar mesmo.

- Eu acho que o mínimo que uma pessoa de nome feio pode fazer é sentir vergonha do nome, né? Mas vai ver ele vai ser daquele tipo que vai imitar o mau gosto dos pais. Já até imagino o nome do filho de vocês: Frankiele se for menina e Danifran se for menino.

(pausa para o sinal da cruz)

 - Mainha disse que desse jeito eu vou morrer encalhada. Então quer dizer que os pais dele fazem parte da população com mau gosto e a culpa é minha?

- Não, amiga, você tem toda razão. Frankiel é de matar. Aguarde o próximo.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Nunca é tarde para aprender


 Vocês já pararam pra pensar na quantidade de coisas que deixamos de aprender por achar que é tarde demais?

Matemática, por exemplo, nunca aprendi. Sempre achei que já estava velha demais.  Na quinta série eu já achava que tinha passado da idade. E não é que eu não quisesse saber matemática, é que eu queria já ter nascido com ela “aprendida”. 

O fato é que eu sempre achei matemática uma coisa bonita. Sempre achei que as pessoas que sabiam matemática eram mais inteligentes que aquelas que sabiam ciências, por exemplo.  “Ah, mas matemática não é pra mim!”. Repeti essa frase da quinta série ao terceiro ano. E não é que eu acabei acreditando nela? 

Dia desses eu estava no banco e uma senhora me pediu ajuda para fazer um depósito.

- Filha, você faz pra mim?

- Faço. Mas a senhora não acha melhor aprender?

- Ah, mas eu não aprendo essas coisas não... Já passei da idade, minha filha.

- Vamos tentar? Até porque é perigoso ficar pedindo ajuda a estranhos.

Como nem eu e nem ela estávamos com pressa fizemos uma aula de banco. E ela aprendeu.  

- A senhora alguma vez já tinha tentado?

- É sempre o meu filho que faz essas coisas pra mim. Só numa necessidade que eu venho fazer sozinha...

- Pois é! Mas agora a senhora já sabe. Se esquecer, peça ajuda ao seu filho, mas não deixe que ele faça por você.

- É, né filha? Nunca é tarde pra aprender.

Nunca mesmo. Nem matemática, nem um monte de coisas.

Sempre tive vontade de fazer ballet, de ser bailarina. Nunca fiz quando criança. Talvez porque me achasse muito magra, talvez porque não tivesse nenhuma amiga que quisesse fazer comigo, talvez porque fosse longe de casa... e eu fui guardando essa vontade.

Hoje faço balé.  Simplesmente decidi. Dei meu primeiro demi plié depois de adulta. Claro que não tenho a intenção de ser a primeira bailarina de Bolshoi, mas já fico satisfeita só em ser bailarina; mesmo com todos dizendo: “Ballet? Mas nessa idade?”. 

E acho que acontece parecido com todo mundo. A gente tem mania de se achar velho demais. Vez ou outra a gente escuta frases como: “Acho lindo quem sabe dançar, pena que eu não sei”, “Queria muito saber falar inglês, pena que eu não aprendi”, “Sempre quis tocar violão, mas nunca fiz aula...”.

Parece que a gente tem medo de encarar as próprias vontades, né? E assim o tempo vai passando.

Mas saiba de uma coisa: seja uma dança, um instrumento musical, um idioma, um extrato no banco... Nunca é tarde para aprender. Só não aprende quem tá morto.

E quando eu for preencher a minha ficha no céu, quero logo ir dizendo: “São Pedro, anota aí: sou bailarina, toco piano, falo quatro línguas diferentes e sei matemática”.

Será que vai dar tempo? E você? Já sabe o que quer que São Pedro anote na sua ficha?

Corre que dá tempo!

Mari Lima