quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre as necessidades especiais


O mundo é tão evoluído sob certos aspectos, mas tão ignorante com relação a outros. 

Hoje, na fila do banco, escutei (é, eu sou curiosa e escuto a conversa dos outros) uma mãe conversando com outra mãe sobre “um autista” que estudava na mesma sala que o seu filho e atrapalhava a aula. As duas concordavam sobre o absurdo de manterem uma criança com autismo numa escola para crianças “normais”.

Se você partilha desse mundo desconhecido sobre as necessidades especiais, eis algumas coisas que você precisa saber:

A primeira de todas é que jamais devemos nos referir a uma pessoa com necessidades especiais chamando-a de cega, surda, autista. Antes de possuir qualquer necessidade especial, ela é uma pessoa. Logo, devemos dizer: tal pessoa que é cega, tal pessoa que possui autismo, caso seja necessário mencionar a deficiência. 

O segundo ponto é que ninguém sabe o que é autismo. Pessoas com autismo não vivem no “mundo da lua”, muito pelo contrário, habitamos todos o mesmo mundo. Autismo é uma deficiência seríssima. Jamais se refira a alguém “avoado” como autista, é tão ridículo quanto dizer, brincando, que alguém tem síndrome de down. 

Outra coisa importante é saber que não devemos julgar pais de filhos com necessidades especiais. Só eles sabem a dor de não ter um filho perfeito. Ninguém está e nem nunca estará preparado para receber um filho diferente. Todos sonhamos com um filho perfeito. Os pais choram, lutam, enfraquecem, choram de novo, correm atrás... Mas a verdadeira aceitação de ter um filho diferente pode demorar meses, anos ou uma vida inteira. 

E já que estamos falando de luta, porque não falar das escolas? Embora não possam, as Escolas particulares ainda rejeitam crianças com necessidades especiais. É sempre uma luta interminável por uma vaga para dar ao filho, que tanto ama, uma educação de qualidade, o direito de estudar, brincar com outras crianças e aprender. Mas talvez as mães da fila do banco não saibam disso. 

Se a criança atrapalha a aula, acho que devemos olhar com mais delicadeza esse ponto. Apenas as crianças com necessidades especiais podem vir a atrapalhar uma aula? As escolas estão repletas de crianças “normais” e BEM mal-educadas. Além disso, nem a Escola nem os pais de outros alunos podem exigir que o aluno com deficiência pague uma acompanhante ou adicional na matrícula. Se a Escola julgar necessário uma acompanhante para ajudar no aprendizado da criança, ela é que deve pagar. Os pais jamais poderão pagar a mais por um filho que é igual aos demais.  

E, claro, não podemos nos esquecer de tocar nesse assunto: não trate pessoas adultas com necessidades especiais como se elas fossem crianças. Não importa se ela tem 15 anos e tem síndrome de down, você não precisa falar com ela com voz de bebê. Aliás, falar com voz de bebê é chato até com bebês (eles só não dizem porque ainda não sabem falar).

E, mais óbvio ainda, parem de sentir medo das pessoas com necessidades especiais, elas não são ex-presidiárias, apenas nasceram diferente e agem de uma forma diferente também.

Caso você vá ao banco amanhã, pense bem antes de falar. Às vezes, o silêncio é a melhor opção. 

Mari Lima


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