segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sobre fadas e bruxas

Se vocês me permitem, hoje quero falar sobre a lavagem cerebral que a mídia realiza na cabeça das crianças. Mídia essa, tão nociva, que corrompe os valores, aproveitando-se, ainda, da inocência e vulnerabilidade das mesmas.
 
Em uma turma de educação infantil, é fácil perceber aquilo que é valorizado ou desvalorizado pelas crianças. Meninas de 5 anos disputam beleza, meninos de 5 anos disputam força e dinheiro. E isso me preocupa muito.
      
Em todo aglomerado de crianças (não importa a idade), existem os líderes. Esses líderes são os que decidem quais são as brincadeiras mais legais, quem deve fazer o quê e quem é amigo de quem. Preciso dizer quem são eles? A menina-líder é sempre loira, magra, de olhos claros e cabelos lisos. O menino-líder é sempre mais alto e mais forte que os demais.


Esses dias, enquanto dava aula, era parte da atividade desenhar uma fada e uma bruxa. Todas as meninas, sem exceção, desenharam a fada loira com os cabelos lisos, e a bruxa com cabelos cacheados e pretos. Questionei:

- Porque você desenhou a fada com cabelos loiros e lisos e a bruxa com cabelos cacheados e pretos?

- Porque a fada é bonita e a bruxa é feia.
 
Quando as crianças formam duplas em suas mesas, a menina que é um pouco gordinha sempre fica sozinha. Porque ela não é tão legal quanto as outras? Não, simplesmente porque ela é gordinha e as outras meninas não querem ser amigas dela. Pasmem!

Os meninos só são amigos daqueles que fazem judô, porque fazer judô é sinal de força. Pensando pela cabeça de uma criança, é compreensível ver o judô como sinal de força (eu também acho), mas daí a não ser amigo daqueles que não o praticam é outra história. Assim é com o dinheiro também. Já presenciei brigas entre meninos sobre quem tinha o pai que ganhava mais dinheiro.

- Professora, o meu pai é juiz. Ele ganha mais que o de fulaninho, não é?


- Mentira! O meu pai é médico! Ele ganha muito mais do que o dele!


- Mas o seu pai não lhe deu o videogame tal que custa tanto!


- Mas ele me levou pra Bariloche!

No meu tempo, as crianças sabiam que tinha o direito de ganhar presentes no aniversário, natal e dia das crianças, mas não sabiam quanto custava cada coisa e ficavam felizes só com o fato de estarem ganhando presentes. Hoje, elas querem um presente a cada final de semana, sabem os preços dos brinquedos e exigem que sejam caros. E essa infinidade de brinquedos fica entulhada na casa sem que essas crianças dêem o menor valor a eles. Os brinquedos agora são descartáveis, elas brincam duas vezes e enjoam. Enjoam porque sabem que receberão outro logo logo.

Educar nossas crianças nos dias de hoje não é tarefa fácil. Se o seu filho quer um brinquedo novo, estimule-o a doar um que ele já tenha em casa. Leve-o para conhecer crianças que não tenham tantas oportunidades quanto ele. Explique o valor do dinheiro, das pessoas, e das amizades.

Amor não se compra. No lugar de encher o seu filho de presentes caros, brinque mais com ele, beije-o mais, conte histórias, façam desenhos, cozinhem juntos, façam morrinho de areia na praia. Crianças, para serem felizes, não precisam de tanto.

É preciso um olhar mais cuidadoso sobre os valores que estamos passando para as nossas crianças. Os valores plantados, hoje, são aqueles que serão colhidos no futuro, não é mesmo?
Mari Lima

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